terça-feira, 6 de novembro de 2012

UMA EXPERIÊNCIA


Vasudeva Row, Subramanyananda, Srinivasachariar.


Na famosa revista “The Suddha Dharma”, de janeiro de 1938, dirigida pela terceira Autoridade Iniciadora Externa, Sri T. M. Janárdana, o Pandit Morli Dhar, membro do Suddha Dharma Mandalam, relata a iniciação que lhe fora conferida por meio do Venerável Mestre Swami Subrahmanyananda, e o contato direto que teve com o reverenciado Pandit Srinivasachariar.

Quando conheci, em Madras, o Irmão Janárdana, o digno e entusiasta diretor da Revista The Suddha Dharma, solicitou-me que contribuísse de vez em quando com algum artigo para essa revista.
 Creio que não poderia fazer nada melhor agora que escrever um breve relato da forma como fui iniciado pelo memorável S. Subrahmanier e do grande amor e interesse que ele abrigava em seu nobre e puríssimo coração, por seus discípulos, seus compatriotas e pela humanidade em geral.

No ano de 1915, eu trabalhava como empregado superior nas oficinas da ferrovia de Karachi e me interessava muitíssimo pelo trabalho da Sociedade Teosófica de lá.
 Apesar dos progressos satisfatórios que fazia nos meus estudos, trabalhos e demais atividades sociais e religiosas, sentia vibrar em mim um vivo anseio de adotar e praticar algum método de meditação para ocupar minha mente nos instantes de ócio e também nos breves momentos antes de me deitar à noite e ao me levantar pela manhã.

Um amigo, o senhor Iver, sugeriu-me que escrevesse ao Dr. Subrahmanier, o que fiz com todo entusiasmo. 
Depois de trocar algumas cartas e de responder a algumas perguntas do inesquecível Swami, fui escolhido para ser iniciado na Suddha Dharma Mandalam, e foi fixado o dia e hora para isso. 
Fui advertido de que deveria ser pontualíssimo.

No dia e hora marcada para a minha iniciação, enquanto eu recitava, com os lábios unidos, alguns Mantras sagrados, esforçando-me por me manter tranqüilo e sereno, senti, repentinamente, um suave golpe no extremo inferior da coluna vertebral (cóccix), que me fez endireitar a coluna e pescoço, erguer a cabeça e levar os ombros para trás. 
Experimentei a visão de um resplendor de uma viva luz branca que vibrava suavemente dentro do meu corpo, especialmente no peito, frente crânio. Imediatamente, meus olhos se abriram e sorri com um êxtase inusitado, sentindo-me muito reconfortado e tranqüilo.

O curso de meditação que me foi prescrito, eu praticava com toda satisfação. Costumava dizer a mim mesmo que eu havia conseguido a destreza e localizado o ponto preciso que deveria me fixar para o meu desenvolvimento espiritual. 
O meu reverenciado Guru, Dr. Sir Subrahmanier, sempre respondia com toda prontidão todas as minhas consultas e, assim, me mantinha firme e progredindo sempre em meu curso.

Para que pudesse compreender a Bijakshara (a sílaba sagrada) e Diksha (iniciação) pessoal, pediu-me que viesse a Madras, quando pudesse. Isso não era obrigatório; portanto, tive que aguardar por um bom tempo a oportunidade desejada.

Fui em julho de 1919 que resolvi mudar-me para o sul da Índia. Meu amigo, Lala Sodagar Mali Bhatia, e sua esposa me acompanharam.
 Eles são discípulos do Dr. Subrahmanier e vivem atualmente uma existência muito devota em Dehra Dun, no sopé dos montes Himalayas. 
Não enviamos aviso antecipado da nossa viagem, pois imaginamos que uma visita surpresa seria mais agradável. 
Partimos de Lahore, no Punjabi, norte da Índia e chegamos a Madras depois de três dia de viagem de trem. 
Chegamos a Madras à noite e, na manhã seguinte nos dirigimos a Beach House, em Mylapore, residência do nosso reverenciado Mestre. 
Nosso coração estava transbordante de respeito, devoção e sinceridade. Nós nos detivemos diante da grade e contemplamos, sorridentes, esse lugar, mas depois, quando entramos e soubemos que o Dr. Subrahmanier tinha ido a Bangalore e que permaneceria lá por algum tempo, nosso sorriso se tornou em decepção. 
O filho do Doutor, que se encontrava no Bangalô, nos acolheu de forma muito cortês e ofereceu todo o necessário para nossa maior comodidade.
 Naquela época, ele ocupava o cargo de superintendente de polícia de Madras. Ele nos pediu que visitássemos o Pandit K. T. Srinivasachariar, em Purasawalkam, pois o escritório da Suddha Dharma Mandalam estava localizado em sua residência.



No dia seguinte, formos vê-lo e foi uma grande alegria para nós ouvir sua voz. Ele era erudito em sânscrito, de grandes méritos. Como não falava inglês nem híndi, tive que solicitar um intérprete que nos pudesse explicar em inglês a mescla de tâmil e sânscrito em que nos falava o Pandit.
  A verdade é que ambos nos compreendíamos muito bem, não obstante conversássemos em idiomas diferentes, e experimentávamos um grande prazer quando o intérprete nos dizia o mesmo que havíamos compreendido. Aquele foi um diálogo pleno de amor e sinceridade.

O Pandit era o restaurador da Suddha Mandalam no mundo, e todos os antigos manuscritos da literatura sagrada se encontravam em seu poder. Conhecia vários ritos e cerimônias; era um comentarista excelente, de méritos excepcionais e nos esclareceu com muita habilidade vários pontos que eram um pouco obscuros para nós.

O Pandit nos aconselhou a que nos dirigíssemos a Bangalore para conhecer o Dr. Subrahmania Iyer, que era o Canal escolhido pela Grande Hierarquia para difundir o conhecimento da Suddha Dharma Mandalam e sua doutrina.
 Como nós estávamos ansiosos e muitíssimo interessados em  conhecer o nosso Guru e, apesar de que havíamos viajado uma distância muito longa em nossa viagem desde o norte até o sul, nos dirigimos a Bangalore por um trem noturno e lá chegamos pela manhã. 
De Madrás, foi enviado a Bangalore um telegrama ao Dr. Subrahmanier, avisando-o de nossa visita. 
O trem chegou a Bangalore pontualmente. 
Tivemos a alegria de cumprimentar  o secretário particular do Dr. Subrahmanier, que teve a tarefa de nos receber e atender-nos, conduzindo-nos a Basavangudi, nome onde residia o Doutor.
 O secretário nos disse que o Guru nos aguardava e que tinha cancelado todos os seus compromissos importantes que tinha nesse dia com outras pessoas a fim de nos atender; solicitou que devíamos acompanhá-lo imediatamente ao Bangalô.

Nesse momento, ficamos silenciosos e, então, como quem obedecendo a uma inspiração superior, manifestamos ao secretário que desejaríamos primeiramente tomar um banho em algum lugar próximo à estação ferroviária, já que seria nosso benefício purificar o nosso corpo e santificar nossos pensamentos antes que nos inclinássemos para tocar os pés do piedoso Santo, cujo amor e atração nos trouxera de uma grande distância.



O secretário nos conduziu ao bangalô Choultry, lar gratuito aos viajantes e, depois de haver feito os arranjos mais satisfatórios para o nosso conforto, regressou ao Bangalô do Doutor. 
Dentro de uma hora voltou, trazendo-nos leite puro, manteiga, açúcar e outras coisas. Ele nos informou que o Doutor estava muito alegre com a nossa chegada e que nos enviava esses alimentos porque não seria fácil para forasteiros consegui-lo.
 Ele nos informou também que o Doutor teria muito prazer em nos receber depois que tivéssemos lanchado.

Em torno das dez horas da manhã, nós nos dirigimos ao Bangalô onde nos inclinamos com respeito, devoção e amor ante uma pessoa resplandecente, que irradiava intrepidez, amor e coragem. 
O Guru estava sentado em uma peça simples, sobre um acolchoado felpudo comum, e ao nos ver colocou-se ereto e estendeu carinhosamente suas mãos para nos dar sua bênção.
 Ele nos indicou que o seguíssemos a outra cômodo contíguo, no qual se sentou sobre um pequeno leito de lã; tinha em sua mão direita um bastão cilíndrico (Yogadanda) e levava no pescoço seu rosário (japa mala) sagrado. O Guru sentou-se direito, com a cabeça erguida, os ombros inclinados para trás e as pernas cruzadas.

Nós nos sentamos sobre um acolchoado à sua frente. Observamos nesse momento uma grande mudança em seu corpo; apresentava um aspecto majestoso, pleno de vigor e poder, resplandecente, com uma luz viva de seu interior e emanava ondas de pureza e de paz.
 Encontrávamos numa atmosfera de serenidade e de repouso e sentimos uma glória imensa. Após algumas perguntas iniciais e explicação de certas verdades Suddhas, o Guru nos tocou com seu bastão sagrado e nos outorgou a Iniciação (Diksha). Ele nos ensinou a maneira de entoar os Bijaksharas e como meditar neles.

Permanecemos em Bangalore três dias e tivemos uma boa oportunidade de conversar livremente com o Doutor sobre muitos assuntos. 
Cremos interessante ressaltar uma resposta a uma de tantas perguntas que fizera a esse Venerável Mestre, que teve a bondade de responder.

P.: como o Senhor chegou a saber que havia sido designado pela Grande Hierarquia de Badari, como Diretor Externo e canal para outorgar bênçãos aos discípulos e iniciá-los na prática de Raja Yoga?
R.: em meu plano Búdhico tive a completa convicção disso e a isso estou dedicado agora.

(Alguns souberam que o Dr. Subrahmanier se dirigiu a um templo próximo ao mar, nas cercanias de Madras, para receber sua Iniciação. Eu mesmo visitei esse templo solitário quando estive em Madras em 1935.
 A resposta do Doutor à minha pergunta sobre esse ponto é evidentemente clara.)

Nota do editor: este é um testemunho de como estes Grandes Mestres da Suddha Dharma Mandalam demonstram que o amor, a simplicidade, a humildade, a pureza de coração e de mente e a entrega dedicada à Hierarquia são o grande reflexo de sua grande sabedoria e amor pela Nobre Causa Suddha. 
E desde seu quase anonimato estarão sempre prontos a atender a quem com sinceridade deseja também integrar-se para trabalhar em silêncio e desinteresse pelo Nobre Ideal do Mandalam.