Muito se fala de evolução espiritual, tanto nos meios
esotérico, místico e religioso, quanto em outras áreas de atividade humana.
Mas o que é, de fato, essa tal de evolução?
O que precisamos
saber, ou fazer, para evoluirmos espiritualmente?
Vários de nossos
colaboradores responderam essas questões, com visões diferenciadas.
Wanise Martinez
Os caminhos são
muitos, mas o processo é um só.
E depende de você
mesmo.
Em sua maioria, as
teorias existentes sobre a evolução espiritual explicam que ela implica num
trajeto difícil, mas precioso e repleto de aprendizado.
Ainda que todo o processo de evolução seja penoso e
doloroso, o destino final é a luz da felicidade ou o autoconhecimento.
Diz-se que a evolução espiritual nos permite descobrir uma
nova vida, com muito mais esclarecimento, que pode nos mostrar de que maneira
podemos ser auto-suficientes, seja na vida material seja na espiritual.
Entretanto, para
recebermos esse dom é preciso que estejamos preparados.
Ou seja, para passar
por um processo evolutivo, a pessoa deve ter em mente que não vai ajudar apenas
a si mesma, mas principalmente ao próximo.
Para desenvolver esse tema, conversamos com diversos
estudiosos e espiritualistas para conhecer suas opiniões a respeito da tão
comentada evolução espiritual.
Na visão da consultora de Feng Shui, Eleine Christy, o
processo de evolução espiritual acontece “quando o ser compreende que é somente
uma das infinitas peças de engrenagem, que faz parte da máquina chamada
universo, e entende que sua funcionabilidade é pequena diante da grandeza da
sua função para que este se movimente”.
Para Marília de Abreu, bruxa e professora de bruxaria, o que
poderia ser chamado de evolução espiritual não está dissociado da evolução como
um todo.
Afinal, tudo está em constante mudança e aperfeiçoamento.
“Considero a
evolução”, explica Marília, “uma lei universal inexorável.
Tudo caminha para o
aprimoramento e, mesmo os tropeços e aparentes retrocessos, também fazem parte
deste caminho, que atinge tudo de forma integral.
No indivíduo, a
evolução espiritual está intimamente ligada ao desenvolvimento da consciência;
consciência de si, dos níveis interiores, de si no mundo e do todo.
Esta evolução não pode ser uma evolução mental-intelectual,
ou só psicoemocional, ou material, nem só espiritual; ela deve ser integral,
pois não é possível atingir um nível superior na evolução sem preenchermos
todas as nossas necessidade e evoluirmos de forma integral”.
“Não existe evolução súbita ou de massa”, diz Marília.
“Cada qual contribui
com seu tijolinho para a evolução da sociedade e, quando um determinado número
atinge um nível superior, aquele valor é integrado.
Mas sempre existirão
pessoas em diferentes etapas e filosofias que sirvam a estas diferentes etapas.
Na verdade, não é
evolução espiritual, mas a evolução com toda a nossa bagagem na direção do
espiritual, que é pleno, processo que não tem fim, de modo que não se pode
dizer que tal pessoa é evoluída espiritualmente e outra não, mas que cada qual
alcança o quanto pode nesta direção, e sempre se pode alcançar mais”.
O espírita José Sola diz que a evolução espiritual “é a maturação
da substância.
Quando Deus nos concebe, dota-nos de seus atributos de
inteligência e amor, facultando-nos com o livre-arbítrio, transformando-nos em
construtores de nosso próprio destino.
A evolução na
condição de seres racionais é simplesmente a resultante de uma evolução que se
manifesta como inevitável no universo e que vai ao infinito em sua manifestação
na vida.
Os efeitos desta
evolução variam no tempo, pois cada momento evolutivo atende aos parâmetros da
consciência, instrumento de aferição de nossas ações perante a Lei Divina, que
é o pensamento de Deus, é a consciência cósmica do Criador.
Assim sendo, a evolução espiritual não está delimitada a um
determinado momento; é uma constante da vida, faz-se a todo instante,
conduzindo o espírito à ascensão divina que lhe está reservada”.
Na opinião do advogado e escritor espírita Francisco Aranda
Gabilan, esse processo possui duas vertentes.
“Evolução espiritual
sob a ótica da individualidade”, explica, “é o conjunto infindável de ações
acertadas no sentido do bem que foram adotadas em meio às soluções contrárias
que se oferecem a todo instante na ordem moral.
Mas, sob o prisma da
generalidade, é a única verdadeira imposição da lei natural ou divina, já que
progredir é a condição normal dos seres espirituais rumo à perfeição, pois que
todos se tornarão perfeitos, ainda que relativamente”.
De acordo com a definição de outro escritor espírita,
Eurípedes Kühl, evolução espiritual “é a auto-reforma, a mudança de
pensamentos, idéias, atitudes, ações – sempre buscando o norte infalível de
viver e conviver com o próximo, tratando-o exatamente como gostaria que ele o
tratasse.
Tal mudança não acontece da noite para o dia.
É obra dos anos,
multiplicados anos.
Acontece sim, porém,
só em raríssimos casos, e assim mesmo porque apenas espíritos fortes,
verdadeiramente fortes o conseguem, quando se dão conta de que percorrem
descaminhos, e é com bravura indômita que fazem correção de rota vivencial”.
Assim, ele entende
que a evolução espiritual se processa com um “viver em retidão de conduta,
respeito à natureza, amor incondicional ao próximo e, na medida do possível,
proteção aos demais seres vivos.
Assim agindo e vivendo, quem o faça estará evoluindo
espiritualmente”.
Conhecida por seu trabalho religioso em prol da união entre
as pessoas, Monja Coen acredita que evolução espiritual é permitir que Buda se
manifeste em sua vida.
“Buda pratica Buda.
Não é o ser comum que se torna Buda, ou iluminado, ou que
evolui para um nível superior.
É este nível
superior, esta iluminação que somos, Buda, que permitimos se manifestar em
nossa vida.
Corpo-mente-espírito iluminados pela prática contínua e incessante
do Caminho de Buda”.
Missionária oficial da tradição Soto Shu – Zen Budismo no
Brasil, Monja Coen também afirma que, se não houver prática, não haverá
realização.
“Os ensinamentos são
nossos guias”, explica.
“O Darma, a Lei Verdadeira, é a nossa grande mestra, e a
Sanga, a Comunidade de praticantes, é nossa família.
Através do zazen
(meditação) nós nos percebemos interconectados com toda a vida da Terra, com
toda a vida do universo, com todo o multiverso. Isto é evolução espiritual.
Fazer o bem a todos os seres”.
Para Helena Gerenstadt, que é pesquisadora e escritora, a
questão da evolução espiritual pode ser definida de várias maneiras.
“Na Doutrina
Espírita”, diz, “é a chamada reforma íntima, muitas vezes difícil, pois não
queremos ver nossos defeitos e nossos vícios, mas não há outro caminho para
essa evolução.
Quando mônadas, também tivemos a nossa evolução, mas no
momento do recebimento da razão, do livre-arbítrio, a evolução se torna
espiritual, porque é o caminho necessário para retornar a casa, às várias
moradas do pai.
Nas lendas do Rei
Arthur, quem conquista o Santo Graal é o puro de coração, Galahad.
E como ser puro de
coração se, muitas vezes, não nos conhecemos, fechamos nossa mente com uma
grande fechadura, nos esquecemos da F.É. (Força Energética).
O ser humano é puro espírito, uma parte essencial de Deus,
uma manifestação do infinito no mundo físico.
Somos perfeitos, mas
o nosso período na Terra é um momento dentro do grande tempo.
Quando percebemos que somos um espírito dentro de um corpo
físico, que precisamos cuidar deste templo que nos abriga, que existe um mundo
ao nosso entorno, inicia-se um autoconhecimento; ao abrir a fechadura de nossa
mente, rompendo nossas próprias barreiras, entendendo o que pede nosso coração,
assim compreendemos a nossa natureza espiritual, iniciando a confiança, a
quietude e a segurança”.
Quem concorda com o conceito de existirem diversas
significações para o mesmo processo é a historiadora Ana Elizabeth Cavalcanti
da Costa.
Segundo ela, a
explicação para o termo “evolução espiritual” sempre terá como base as crenças
religiosas de cada pessoa.
“O que é necessário para desenvolver a espiritualidade?
Como
‘crescer’ espiritualmente?
Cada religião, ocidental ou oriental, traça caminhos
de conduta para que seus fiéis aprimorem seu espírito diante de um ser superior
(Deus, Jeová, Alá etc.), e geralmente sinalizam como gratificação a conquista
de algo sedutor, que será obtido apenas após a morte.
Grande parte das
crenças religiosas determina como base de crescimento espiritual o sofrimento,
o sacrifício de seus fiéis, principalmente no que se refere ao aspecto material
e físico da vida. Em algumas, o sofrimento do homem é justificado como carma, o
que leva a pessoa a resignar-se diante de situações, pois se ela sofre é porque
precisa pagar por algo que cometeu numa vida passada.
E, dessa forma,
aceitando o sofrimento, ela evoluirá espiritualmente.
Nas igrejas cristãs, geralmente as pessoas devem seguir
determinadas regras, não cometer ‘pecados’ para atingir a evolução espiritual”.
E completa: “Acredito mais que somos seres espirituais
vivendo experiências humanas. Espiritualidade é vida. Embora tenha sido criada
na Igreja Católica, tive o privilégio de ter acesso, desde criança, a diversos
outros credos e muitas informações por meio de meu pai.
Ele sempre me dizia que os caminhos eram muitos, mas que
todos levavam ao Criador.
Foi com ele que
aprendi também a ter os olhos e ouvidos atentos para o que nos cerca, e a não
ter nenhum tipo de preconceito.
Pensar no ser humano de forma completa é pensar além da
linha, além do pensamento linear, porque o mundo espiritual não funciona dessa
forma.
Existe uma estrutura no universo que devemos reconhecer para
compreendermos um pouco mais sobre a vida, seus processos e a nossa própria
espiritualidade.
A evolução espiritual
engloba o caminho do autoconhecimento, é uma aventura da autodescoberta, vencer
seus fantasmas interiores e não temer o dia que virá.
Somente dessa forma podemos caminhar, evoluir, desenvolver
nossa espiritualidade, nossa própria vida”.
A professora de filosofia e mitologia Marilu Martinelli
entende que, embora a ciência tenha compreendido a vida como sistêmica há
relativamente pouco tempo – evoluindo em termos de redes, fluxos e ciclos –,
para as tradições espirituais esse é um processo reconhecido desde sempre.
“As escrituras sagradas de todas as culturas e religiões”,
diz ela, “reconhecem todos os ciclos e sabem que eles interagem e constituem a
delicada e tênue teia da vida.
A evolução da natureza e a espiritualidade caminham de mãos
dadas.
A cada volta da
espiral, ao término de cada era, o planeta dá um salto de qualidade, assim como
a humanidade que ele abriga.
Penso que é chegado o
momento da humanidade escolher seu futuro e cuidar da sobrevivência do planeta
e da sua própria sobrevivência como espécie.
Estamos atravessando um período
crítico da história da Terra, e nós, humanos, que ocupamos atualmente 83% da
superfície planetária, precisamos despertar para nossa responsabilidade perante
nós mesmos, a vida, os ecossistemas e o cosmo.
Como o espírito é a
força criadora capaz de romper padrões e inovar apresentando novos sentidos
para as coisas e estabelecendo novas ordens sociais, essa é a era do despertar
da consciência espiritual.
A espiritualidade não está apenas nas religiões e, apesar de
ser uma dimensão natural do potencial humano, vai além dele, pois tem como
fonte original o universo.
O ser humano é dotado
de exterioridade, o corpo; interioridade, as emoções e os sentimentos; e também
profundidade, o espírito.
Por isso, sua evolução está intimamente ligada à evolução da
natureza e do espírito-consciência”.
Outra espiritualista que apresenta uma visão um pouco
diferenciada sobre o assunto é Carmen Balhestero, fundadora da Fraternidade Pax
Universal.
Segundo ela, evolução
espiritual é olhar para nossos obstáculos e defeitos sem prejulgamento,
aceitando nossos limites naquele momento, sabendo que a cada dia temos o
desafio de nos superar e reencontrar a totalidade do nosso ser, que reflete a
grandiosidade da nossa alma.
“É agir e não falar”, explica Balhestero, “é ser exemplo e
não cobrar, é não criar expectativas em relação ao comportamento dos outros e
da vida, é viver um momento por vez, vivenciando integralmente a totalidade de
cada instante sagrado que temos à nossa disposição, para atuarmos da forma que
escolhermos diante das inúmeras possibilidades que o universo nos apresenta a
cada dia, pois a cada instante temos a oportunidade de recomeçar.
É ser verdadeiro,
mostrando a nós mesmos que encontramos a nossa verdade e vivemos integralmente
nossos valores.
E que agimos de
acordo com o que sentimos e pensamos, e não seguimos modismos ou energias
superficiais impostas pelas escolhas dos outros.
É aceitar e expressar
a totalidade da espiritualidade que existe em cada um de nós, a cada dia,
seguindo a intuição e expressando a criatividade em todas as situações.
Quando aceitamos tudo
o que nos acontece com o sentimento do mais puro amor incondicional, a cada dia
atingimos mais um degrau na nossa evolução espiritual e manifestamos a
felicidade e a nossa paz interna".
Por outro lado, a pesquisadora e palestrante Maísa
Intelisano tenta mostrar que, na verdade, não existe uma evolução espiritual,
mas sim uma evolução consciencial.
”O que evolui não é o
espírito”, ela explica, “mas a consciência que esse espírito tem de si mesmo e
do universo.
O espírito é criatura
divina e, portanto, perfeita, plena, completa.
Ele apenas não tem consciência de todos esses seus
atributos, os quais lhe são revelados à medida que ele mesmo os busca entender
e integrar em si mesmo.
E a evolução
consciencial é justamente aquela percepção ampliada que nos permite perceber
nosso Eu superior, nossa essência, nossa inteireza e sabedoria, levando-nos,
inclusive, a ‘domesticar’ nosso corpo físico.
Ou seja, fazendo com que criemos, para nós mesmos, para a
nossa manifestação no planeta, corpos físicos cada vez mais sofisticados e
habilitados a manifestar a essência espiritual, o ser espiritual”.
Quem partilha em parte desse conceito é Margareth Gonçalves,
instrutora de yoga e diretora do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala.
“Você me pergunta
‘evolução espiritual’?”, questiona Margareth.
“Eu te respondo: se é do espírito, nada.
O espírito não
evolui, ele é imanente e eterno.
O que evolui é a expansão da consciência contida nele, que
habita nosso corpo causal, mais popularmente conhecida como ‘alma’.
Essa chamada ‘expansão’ nada mais é do que ‘discernimento’.
E esse tal de
‘discernimento’ está contido em nós
através de uma energia chamada tejas.
Essa evolução
consciencial humana se dá através de um processo gradativo de transformação da
matéria e das energias da personalidade, pois a meta final da evolução neste
mundo é a união do espírito com a matéria, que dará vida ao homem novo.
É também ser feliz e
nos tornar criaturas do quinto reino.
Quero dizer: nós nos tornarmos seres angélicos, que é a
nossa próxima etapa evolutiva.
Então, seremos eternamente felizes, em comunhão perfeita com
o universo”.
Estudioso e professor de Yoga Clássico, Cláudio Duarte
afirma ser muito delicado indicar o que vem a ser evolução espiritual.
“A priori”, diz,
“isso envolve desmistificar um imenso volume de superstições, dogmas, medos e
falsos valores que, ao longo de alguns milênios, se consolidaram como
‘verdades’ no planeta.
Por conta disso, os seres humanos acabaram se equivocando e,
aos poucos, estão se destruindo e também danificando gravemente o planeta que
os abriga, dá amor e alimenta.
Então, como falarmos
sobre ‘evolução espiritual’ – que é o 'único' e definitivo caminho que resta
para os seres humanos se salvarem da perdição que eles próprios criaram –, se
cada religião, cada seita, cada segmento político, entre outros, irá correndo
desesperadamente divulgar suas 'verdades preconcebidas'? E mais, para falar
sobre ‘evolução espiritual’, antes de tudo teríamos que tratar sobre um mínimo
de ‘evolução’ da própria humanidade, no seu conjunto. E não é isso que se pode
observar nos últimos milênios”.
Para Claudio Duarte, seria preciso falar sobre a evolução
individual, em seus aspectos educacional, cultural, social, mental, sentimental
ou conceitual.
“E só após a
ocorrência de um processo individual, mas ao mesmo tempo coletivo e em grande
escala”, ele explica, “é que poderíamos voltar à evolução espiritual.
Se realmente tudo
acontece ou funciona por longos ciclos, temos de considerar que os seres
humanos, neste momento, devem estar passando ou atravessando um dos seus
piores.
Mas certamente isso
vai passar. Enquanto isso, a evolução espiritual espera, pois depende dessas
transformações, desse processo reconstrutivo, para que realmente aconteça.
Contudo, se não houver profundas mudanças no interior e na
mente dos seres humanos, em um outro sentido, em uma outra direção, então se
torna desnecessário tratar sobre a mesma, já que as pessoas não estarão preparadas
para a evolução espiritual”.
Ramy Arany e Ramy Shanaytá, fundadores do Instituto Xamânico
KVT, explicam que, em sua visão, “a natureza de nosso potencial essencial é
gestadora contínua.
Portanto, somos seres
de potencial de construção em que nossa consciência também é um potencial que
necessita ser construído.
É comum imaginarmos a
evolução como uma linha reta ascendente,
direcionando-nos sempre para o alto; o ideal de evolução se torna cada
vez mais distante pois, quanto mais subimos, mais alta e distante ela se torna.
Isto ocorre por
sustentarmos uma visão retilínea e racional de evolução, na qual buscamos
alcançá-la de fora para dentro.
É necessário, num
primeiro momento, desconstruir esta visão quase infantil, por conta de sua
imaturidade, sobre nós, sobre a natureza e sobre a própria evolução em seu
amplo aspecto”.
“Em relação à evolução espiritual, este modelo retilíneo
ascendente também acaba sendo nossa origem de referência, em que a evolução
espiritual aparece como um modelo perfeito a ser alcançado e no qual finalmente
atingiremos também a perfeição.
Sentimos que enquanto
nós, seres humanos, buscarmos a perfeição como modelo a ser atingido, mais
estaremos distantes de realizarmos nossos sonhos de evolução.
É necessário amadurecer nossa visão sobre evolução e passar
a evoluir verdadeiramente de dentro para fora, como fala a lei natural que nos
ensina que ‘tudo começa do interno para o externo’, e ir construindo o passo a
passo evolutivo”.