terça-feira, 6 de novembro de 2012

Meditar não é pensar


Sri Vájera Yogui Dasa - Benjamin G. Valenzuela – Instrutor espiritual

Pintura de Sri Vájera Yogui Dasa



       Meditar não é pensar, não é articular o pensamento levando a imaginação de um um lado para outro.

 Meditar espiritualmente é aquietar a mente, descançando-a, fazendo com que ela repouse em um objeto formoso e agradável.

 Um sugestionador ou hipnotizador que quer criar um  poder mental, se exercita em fixar firmemente o olhar em um ponto.

Para isso, geralmente  é desenhado um grande círculo negro com um pequeno ponto branco no centro, em um papel.

 O discípulo não deve fazer nada mais que olhar atentamente, sem piscar, sem mover os olhos, nem a mente, este ponto branco, para com isso desenvolver as forças mentais necessárias para hipnotizar.

 Isto só constitui um sistema psíquico que gera “Siddhis”, poderes inferiores. 

Este exercício produz mais malefícios que benefícios, pois pode  afetar os nervos ópticos, levando à cegueira física ou prejudicando o cérebro do incauto praticante.

 No Caminho Espiritual procede-se de maneira similar para obter o controle mental, porém em forma superior. 

Não se deve imobilizar os olhos físicos, nem cansar a mente.

 O primeiro que se deve fazer é fechar os olhos. Para que a vista descanse, não devemos imobilizá-la, fixando em um ponto ou branco ou negro, mas sim fixar o pensamento em algo agradável; por exemplo, em Grande Ser Divino, ou no Anjo Protetor, ou em qualquer outro Ser Espiritual, pensando que Ele está defronte de nós mesmos.

Devemos IMAGINÁ-LO, prestem a atenção na palavra IMAGINAR, não vizualizar tratando de vê-lo, porque não podemos ver uma coisa sem ter olhos apropriados para isto.

Se nos esforçamos em divisar o Mestre sem haver despertado a faculdade da visão espiritual, nos cansamos e, ao invés de acrescentar o poder mental, o debilitaremos. 

Não devemos esquecer que somos cegos na alma. 

Assim como um cego pressente que existe alguma pessoa diante dele, nós também devemos fazer o “pressentimento” ou ideação de um Ser, sem tratar de vê-lo, já que, como dissemos anteriormente, não se nos abriram os olhos para ver nos planos sutis.


       O discípulo, sendo um cego espiritual, somente deve pensar que está ante a presença de um Grande Ser, radiante de glória.


Por exemplo: Diante dele, presente o fulgor de Sri Bahagavan Mitra Deva bendizendo-o e permanece abrindo o coração e a alma com amor e alegria, recebendo a transfusão de sua Luz plena de bênçãos de Poder e Glória.

Que coisa mais fácil! 
Que coisa mais bela!
 Não temos que fazer mais nada do que descansar, fechar os olhos, abrir a alma e o coração, respirando suavemente, com alegria e amor, para receber a LUZ DO MESTRE que invocamos. 

Se movemos o pensamento, pensando na vida de um Grande Ser, recordando onde nasceu, que fez, ou como morreu, isto é PENSAR. Na Ciência da Contemplação Espiritual, não se deve pensar mudando a imaginação, formando novas cenas, mas sim, deixar o pensamento QUIETO, IMÓVEL,  mantendo a consciência do que estamos recebendo, com ALEGRIA e AMOR, a divina Luz da Glória do Ser Adorado.

 Esta é a meditação da  quietude ou CONTEMPLAÇÃO externa, para tranqüilizar a mente e receber as Bençãos do Ser Venerado.

 Darei um exemplo: se um cego se coloca diante de uma flor, logicamente não a vê, porém, ele sabe que está dando seu perfume e o respira suavemente, enchendo-se com seu aroma e doçura. 

Para fazer o exercício da Contemplação Espiritual, podemos imaginar que estamos diante de um Ser de Luz divina e nós abrimos com amor, as portas e janelas de nosso aposento íntimo, para que penetrem seus raios em todo o nosso organismo físico, iluminando nossa mente e nossa alma, com poder e glória.

Sabemos que quando estamos fazendo este exercício, principalmente os que são principiantes, o pensamento muda, fixando-se em outros motivos, esquecendo o Divino Ser Eleito.

 Descuidamos rapidamente do tema idealizado, pensando em coisas variadas e novos pensamentos surgem na mente, esquecendo a ideação mental. Entõa, que devemos fazer?

Não se deve  lutar para afastar os intrusos pensamentos;deve-se esquecer e volver de novo a pensar que se está ante a presença do Sublime Ser, respirando suavemente, com Amor e com Glória, deixando que penetre o Divino Poder em nós. 

Em poucos instantes, novamente, o pensamento tão formoso e belo que havíamos imaginado, é arrastado por outras ideações alheias e nosso propósito. 

Deixem que os intrusos pensamentos se vaiam, não lutem contra eles. 

Não devemos lutar. 
Se queremos espulsar um malvado e o tomamos para empurrá-lo para fora, estaremos mais próximos a ele, ao contrário, se não o atendemos, ele se vai só.Basta que não lhe façamos caso. 

Os maus pensamentos e as más idéias não devem ser combatidos lutando contra elas, devemos esquecê-los, afastando de nossa recordação e voltando a apoiar-nos sobre o pensamento que tínhamos anteriormente. Não se deve desanimar nesta guerra. Somente persistir. 

Se mil vezes o pensamento se distrai, mil vezes voltamos a repousar a imaginação na gloriosa figura idealizada. 

Esta é a forma que, pouco a pouco, dia após dia, a meditação aquieta o pensamento e se vai assimilando, cada vez mais, a glória do Mestre Amado. 

Ao princípio, as pessoas crêem que não  avançam, que não progridem, que não têm nenhum proveito, tal como uma criança que pensa que não cresce, porque não se sente crescer. 

Uma planta parece aos nossos olhos que não crescem, porque não a vemos aumentando de tamanho, porém, sabemos que está crescendo. 

A força interior aumenta com a meditação, ainda quando não a percebamos, nem sintamos nenhuma demonstração exterior.

 Muitos devem  haver comprovado o poder acumulado quando passam por situações difíceis. Enquanto outros, em situações conflitantes, gritam, insultam ou se assustam, o que medita, com o poder interior assimilado, permanece firme, em quietude e paz, condições que não possuem pessoas carentes de controle interior.

 Então se percebe que nosso espírito, pela graça da meditação, está entrando na Divina Paz, que nada o comove, fazendo-o perder a razão.

 Este é um dos benefícios que se alcança mediante a Yoga.

 As pessoas que seguem este Caminho, cada dia aumentam em suas almas as forças espirituais, vibrantes de felicidade. 

O verdadeiro devoto da Ciência  Divina ou Suddha Dharma, que segue com amor e felicidade o Caminho que conduz à Perfeição, esteja onde estiver, o Mestre Espiritual o ajuda, outorgando-lhe bênçãos, para que continue, sem interrupção, o avanço de sua consciência, até chegar à glória da Liberação terrena ou Prapty.

 Cada discípulo pode meditar em uma forma de Dhyana após a outra, dando mais tempo a aquela  que seja de seu maior agrado.  


Nota: 
Importantíssimo lembrar que, Sri Vájera escreveu seus artigos a quase 100 anos atrás.
Ele morava em Santiafo/ Chile, um país essencialmente Católico.
Sendo assim, para não sofrer rejeições, optou por sempre  mencionar inúmeras citações da Bíblia Cristã como exemplos de suas idéias.
Segundo seu entendimento, isso facilitaria a compreensão de seus leitores, já que a cultura oriental é bastante diferente da ususal.
Portanto, temos que elaborar nossa mente para um entendimento mais próximo do original, tendo sempre como ponto de partida, a aceitação de que Suddha Dharma NÃO é religião....e que esta Ciência está além do discernimento humano, porém como Ela é adaptável em Tempo, Lugar e Circunstância, Ela é moldável e expressiva em qualquer filosofia ou religião deste reino hominal.