segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A GRAÇA ESPIRITUAL

Nossos agradecimento pela tradução realizada pelo Dasa  Alfonso Prellwitz.

Por Sri Vajra Yogui Dasa (Don Benjamin Gusman Valenzuela)

Conferência ditada por Sri Vajra no Templo da Suddha Dharma Mandalam e anotada taquigraficamente por uma secretária da Organização.
Santiago do Chile
1984

 

A GRAÇA ESPIRITUAL

Contato Progressivo com o Mestre Espiritual, com o Eu Superior e com a Divindade.

Nós, que desejamos seguir a Senda da Suddha Dharma Mandalam, ou seja, o caminho que conduz aos pés do Mestre Espiritual e visualizar sua magnífica figura, temos que lutar, com esforço, contra os defeitos arraigados em nossas qualidades inferiores. Temos também que alcançar o contato consciente com nosso Eu Superior, onde está a história e a Sabedoria adquiridas através das múltiplas vidas passadas, para continuar depois, em direção ao conhecimento progressivo e direto de Deus.


Guerra entre o Eu Inferior e o Superior

Não há nada no mundo absolutamente santo, como não há nada totalmente mal. Em todos nós existem chifres de diabo e asas de anjo. Em cada um de nós atuam o Eu Superior e o eu inferior; essas forças estão em continuas e valentes batalhas. Nós, que tratamos de seguir este Caminho Santo, devemos nos esforçar para que o Eu Superior, o Espiritual, vença o inferior, o mundano. O eu inferior, apesar de ser transitório, muitas vezes vence momentaneamente ao Eu Superior, que é Eterno; o perpétuo Eu cai em incontáveis batalhas, o pesado projeto do eu inferior o afasta e oculta, envolto em baixas paixões. Mil e uma vezes tratamos de fazer mais potentes nossas forças internas para que o Eu Superior brilhe em todo o seu triunfante esplendor nas batalhas da vida. Contudo, apesar de nossa vontade, de nossas forças interiores e do desejo de superação, ao querer bater nossas asas para nos elevar, voltamos a ser arrastados por esse demônio que habita em nós e assim, nessa contínua batalha, se não vencemos, passamos a vida perdendo a gloriosa finalidade da existência.
            Através de nossas debilidades, pensamos que mais tarde teremos as forças supremas que nos farão mais fortes para vencer. Acreditamos que isso será dentro de um mês, de um ano ou de vários anos. Passam-se muitos anos, mais do que imaginávamos, sem poder vencer nossas paixões inferiores. O espírito, prisioneiro em seu corpo físico, unido com os corpos sutis, segue sendo vencido e, portanto, renascendo uma e outra vez como conseqüência de estar ainda acorrentado pelas forças inferiores.
Podemos alcançar a Glória que muitos têm alcançado

É para nós uma grande esperança saber que outros têm conquistado a Prapti ou Liberação Espiritual e que não somos os únicos que estamos na luta para conquistá-la. No Livro dos livros, o “Bhagavad Gita”, se relata a batalha entre as boas e  as más raízes existentes no íntimo do ser. Na batalha dos Pandavas contra os Kauravas, há um carro que abriga a Arjuna e Sri Krishna, que representam, respectivamente, o eu inferior e o Eu Superior. O carro onde estão ambos os personagens, representa o nosso corpo no qual viajam Krishna e Arjuna, simbolizando nossas duas personalidades: a divina e a humana. Neste livro maravilhoso está expresso o ensinamento que o Mestre dá ao Discípulo para que domine suas  tendências inferiores; o Mestre eleva sua voz uma e outra vez, exortando Arjuna a ser valente, a fim de que chegue a ser o que foram seus nobres antepassados que já triunfaram.
Foi dito anteriormente que muitos tem sido heróis neste mundo vencendo o seu eu inferior. Que incentivo tão grande é para nós saber que outros alcançaram essa vitória! Podemos nos perguntar: como é isto? Eram aqueles seres feitos de outra matéria? Por que puderam vencer? Não! Somente que em comparação com estes grandes seres, nós ainda estamos em planos evolutivos relativamente inferiores.

A Graça Divina

            A vida nos arrasta, as paixões nos envolvem e nos derrubam como se fôssemos seres sem vontade, ficando presos no solo sem poder voar até a luz da Eterna Felicidade, retidos por nossos desejos negativos. Porém, como mudar essa natureza tão débil e mundana? Como superá-la? Neste mesmo Livro está indicada a fórmula. Coisa curiosa, não só no Bhagavad Gita, mas também todos os grandes Mestres que tem ensinado sob o nome da GRAÇA DIVINA OU ESPIRITUAL – a Graça da qual falam os Santos, a Graça de Deus, a Graça dos Mestres ou a de um Espírito Puro.
            Porém, é essa Graça um privilégio que corresponde a uns e a outros não? Tudo isto está explicado claramente no Bhagavad Gita.
            A Graça Divina é uma transfusão de energias espirituais, sutis, divinas e gloriosas. Os Mestres não dão a Graça a qualquer um, tem de merecê-La e pedi-La com toda sinceridade de coração. “Pedis e Recebereis”, disse o Cristo, como esta escrito no Evangelho. Naturalmente, isso não se refere a pedir apenas coisas mundanas, mas, também qualidades Divinas. O Grande Avatara de Nazaré falava para os iniciados e para o povo que poderia compreender suas místicas palavras.
  
A Graça Divina é implorada por Jesus
Os Avataras não só nos ensinam a pedir. Eles também pedem o Poder da Graça Divina. Recordarei algumas passagens da vida de Jesus Cristo. Por exemplo: quando pediu a João Batista que invocasse a Energia ou a Shakti do Supremo Espírito sobre Ele. Ainda quando o Iniciador se negara a fazê-lo, dizendo: “Mas Eu, Senhor, não sou digno nem de tocar a fivela de Seu calçado”. O Senhor insistiu para que tal ato se realizasse e então João obedeceu ao Senhor, conduziu-O às águas do Rio Jordão e ali levantou sua vara de poder e invocou a Divina Graça do Deus Planetário sobre a cabeça de Jesus, produzindo assim uma transmissão da Energia Divina, a qual penetrou desde a coroa da cabeça até o coração de Jesus, convertendo-o em um Cristo ou Iluminado.
No Horto das Oliveiras, Ele que já era Cristo, antes da dolorosa paixão, implora ao Pai: “Faça-se a Tua Vontade e não a Minha”. A vontade é poder. Sem a força da vontade não há energia para atuar. A Energia de Deus deste mundo terrestre ou Graça do Poder Divino foi o que ajudou o Cristo suportar seu calvário e dar ao mundo o exemplo do perdão e do amor até os últimos instantes de sua vida. E em muitas ocasiões quando efetuava milagres, dizia: “Isto não sou eu quem faço senão o meu Pai, que está nos Céus”; quer dizer, o Poder que Jesus Cristo utilizava era a Divina Graça de Deus.
Invocar sempre a Divina Graça

            Nós. membros da Suddha Dharma Mandalam, teremos que seguir o magnífico exemplo: pedir aos Mestres dos Poderes Santos a força para vencer e não ser derrubados por nossos inferiores desejos. Teremos que invocar sempre a Divina Graça de nossa Mãe Celestial e a dos Grandes Seres da Luz Divina. Com a ajuda espiritual nos livraremos do egoísmo, do ódio e da sensualidade, amando o próximo com suficiente pureza e em êxtase de Sabedoria e Glória adorar a Deus sobre todas as coisas.
            O máximo e feliz triunfo do Eu Superior, é dominar o eu inferior mediante nossa própria vontade fortificada pela Graça Espiritual e alcançar assim uma progressiva união com a Glória do Supremo Espírito de Deus.
            Que a Graça Divina nos ajude a obter todos aqueles bens que merecemos e criar possibilidades de prazerosas glórias.
  
Sri Krishna indica a Arjuna que implore a Graça Divina 
Não é pois, somente empregando nossas próprias forças físicas ou por nossa vontade, nem inteligência, que podemos alcançar vitória nas dificuldades que surgem ao levar a vida pelo Caminho do Aperfeiçoamento integral, porque se assim fosse, com toda segurança, Sri Krishna não haveria indicado a Arjuna que implorasse o Poder e a Ciência necessárias para vencer na batalha, dizendo-lhe: “Oh tu, de potentes armas. A postos na frente de batalha, entoa o hino a Durga com pureza de intenção, para derrotar as hostes inimigas”. (Gita I, Vers. 12)
Obediente ao Divino Conselho, Arjuna entoou um belo louvor implorando a Divina Graça de Sri Yoga Devi, em seu aspecto de Durga1. A misericordiosa Rainha dos Santos, Arcanjos e Hierárquicas Espirituais lhe respondeu do Céu, transmitindo-lhe o conhecimento e as energias com as quais alcançou com êxito o triunfo, derrotando os seus adversários.

Não esquecer nunca, em toda dificuldade implorar a Graça Divina

            Nós, conhecedores de que podemos obter a poderosa arma da Graça outorgada pelos Grandes Seres da Luz Divina, não devemos esquecer nunca de invocar a Graça para solucionar ou vencer as difíceis circunstâncias que nosso Karma pode apresentar na vida.
1  O Hino entoado por Arjuna, está impresso na segunda edição do Bhagavad Gita do Suddha Dharma Mandalam, Cap. I do Vers. 14 ao 26.


Triunfo na batalha contra o Eu Inferior

            Com a transfusão das Energias Divinas mediante a Graça das Iniciações Reais, vencemos o eu inferior, e nos é facilitado o Caminho que conduz até o contato progressivo com a Glória do Supremo Espírito de Deus “Entrando vencedores ao Reino dos Céus, onde tudo nos é dado por acréscimo”.

                                            SUBHAMASTU SARVA JAGATAM



Nota: 
Importantíssimo lembrar que, Sri Vájera escreveu seus artigos a quase 100 anos atrás.
Ele morava em Santiafo/ Chile, um país essencialmente Católico.
Sendo assim, para não sofrer rejeições, optou por sempre  mencionar inúmeras citações da Bíblia Cristã como exemplos de suas idéias.
Segundo seu entendimento, isso facilitaria a compreensão de seus leitores, já que a cultura oriental é bastante diferente da usual.
Portanto, temos que elaborar nossa mente para um entendimento mais próximo do original, tendo sempre como ponto de partida, a aceitação de que Suddha Dharma NÃO é religião....e que esta Ciência está além do discernimento humano, porém como Ela é adaptável em Tempo, Lugar e Circunstância, Ela é moldável e expressiva em qualquer filosofia ou religião deste reino hominal.